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O que vivemos é um tesouro que nunca se apaga da memória, mas é o que não construímos que nos entristece e mata.


Os Guerreiros da Estrada

É o fim, todo o mundo está atacado e só nós conseguimos escapar. A epidemia persegue-nos a toda a velocidade, sinto-lhe o cheiro, sinto a morte. Ela acelera e tenta ultrapassar-nos, tenta devorar-nos e fazer de nós mais cadáveres para juntar à sua colecção, tal como fez com o resto do mundo. Seguimos viagem com o acelerador ao fundo. Olhamos em todas as direcções e não vemos uma única alma penada, nada, ninguém. O desespero começa a apoderar-se de nós e o sentimento de medo absorve-nos. Frente a todas estas realidades criamos uma regra: Quem está afectado, está morto e é deixado para trás. Juramos levar esta regra até ao fim e de maneira nenhuma quebra-la. Pois bem, chegou a altura em que temos a decisão das nossas vidas nas mãos. Um de nós está infectado e falta-nos a coragem de lhe dizer que vamos seguir o caminho sem ela, mas chegou a hora, e a regra tem de ser cumprida. Paramos o carro e entre o medo e o desespero interior ordenámos-lhe que saísse. As lágrimas escorriam-lhe pela cara, mas perante esta situação tornamos os nossos corações nas mais frias pedras e ignoramos tal facto. Ela não quer sair, recusa-se a faze-lo. Eu saiu, abro-lhe a porta e arranco-a de lá de dentro. Com ela, deixei também o meu coração. De seguida, entro novamente no carro para seguir viagem. Depois dela fui eu quem foi infectado. Seguimos tentando esquecer este facto, mas quando paramos para dormir, o meu irmão e a outra acompanhante tentam fugir e deixar-me para trás. Eu tinha previamente pensado que esta situação poderia acontecer e certifiquei-me de que as chaves do carro ficavam comigo. Eles começam a correr, pensando que iam conseguir escapar. Quando já estão dentro do carro, apercebem-se de que sem mim não podem ir porque sou eu quem possui o elemento principal para pôr o carro a trabalhar. A muito custo, eu ponho-me de pé e dirijo-me para eles. O pânico habitava dentro deles. Finalmente o meu irmão tomo a decisão que eu também já tinha estado encarregue de tomar. Pega na arma, sai do carro e a muito esforço dispara dois tiros sobre mim. Morto, caiu no chão. Ele não tinha outra hipótese. Está é uma luta em que só os que não foram infectados chegam ao fim. Eles não podiam correr o risco de eu lhes transmitisse a epidemia, e decidiram seguir sem mim. Para eles, a viagem continuou até chegarem ao destino: a Praia das Tartarugas. Uma praia deserta onde eu e o meu irmão tinhamos passado a infância.

Agora só lhes restava esperar que chegasse alguém, também saudável, para os salvar. Com muitas pedras no caminho, conseguiram finalmente alcançar o fim do trajecto que tinham estabelecido percorrer, deixando os que mais amavam para trás, mas sem qualquer culpa ou escolha.

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