Hoje , eu sou como um pardal a quem tiraram a liberdade. Enjaularam-no sem dó nem piedade, e o pobre voa forçosamente contra as grades , embate contra elas com toda a força, sem pensar em desistir uma única vez. Mas quem lhes tira a liberdade, tira-lhes a vida, e foi assim que comigo aconteceu. Apaixonei-me e deixei-me levar sem ter medo do futuro. Para bem ou para mal, estava a entregar-me a alguém de que pouco sabia. Lentamente e de maneira imperceptível, fui deixando que me prendessem e que me impedissem de voar. Quando dei conta, já era tarde demais, estava absorvido pelo meu detentor que jurava dar-me tudo, que me prometia entregar-me a vida para que assim pudéssemos ser felizes. Sinceramente, acreditei que tal fosse possivel, mas de dia para dia, ia apanhando uma desilusão, ia caindo na realidade sem que me apercebesse o tão funda que era. Quando quis libertar-me, para que pudesse voar de novo em liberdade, percebi que não tinham só conseguido prender o ser, como a minha alma e agora, sou eu quem não sabe se consegue fugir, se consegue escapar desta gaiola aberta.
Queria tanto, tanto que o tempo voltasse atrás e que tudo fosse diferente. Queria voar, e saber que tinha sempre aquele ombro onde pudesse repousar e sentir-me seguro, mas sei que o real de hoje não é isso, é antes uma vida controlada, esquematizada, escrita com todas as regras e funções.
Mas Eu, hei-de exigir sempre o meu espaço, a minha liberdade, as minhas asas, o meu voar sem saber para quê. Hei-de exigir sempre o meu céu, o meu cruzar de nuvens, o meu sol, e de noite, a minha lua. Hei-de exigir os meus quatro elementos primordiais e sei que hei-de ser ser feliz assim.
Sinto-me agora assente sobre uma corda bamba, que nem anda nem desanda e sou eu quem tem o poder de decidir para onde voar. Voo em frente e esqueço o passado, ou caiu para trás na esperança que me segurem?
As inseguranças constituem a parte de um ser, uma parte da minha vida. Constituem o meu presente e não as quero levar para o meu futuro.
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