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O que vivemos é um tesouro que nunca se apaga da memória, mas é o que não construímos que nos entristece e mata.


Eu não páro...


Entro e vejo tudo a desfazer-se. O papel de parede rasgado , a madeira do chão levantada, as portas partidas e o tecto já fazia parte do chão. Com uma lanterna penetrei pelo assombro a dentro, deixando me envolver pela escuridão da noite num abraço apertado. Pé ante pé vou avançando , vou ouvindo a madeira rugir, as pingas caem soltas no chão , leves brisas de vento fazem o meu cabelo estremecer e de repente uma porta bate do meu lado direito, uma das poucas que penso ainda se encontrarem de pé. Ignoro e sigo em frente, mesmo sem saber onde é que o destino me ia levar. Dou mais um passo e a madeira do chão cede , enfiando a perna num buraco até ao joelho. Recomponho-me e sigo caminho. Mais à frente o mesmo se volta a suceder, mas com a perna contrária. Volto e erguer-me e com alguns gemidos de dor avanço nesta caminhada. Pouco tempo depois de andar num corredor demasiado extenso com portas de ambos os lados, chego à ultima, que se encontra mesmo à minha frente. Contudo, esta tem um aspecto estranho. Passei-lhe a mão e está limpa, não tem ponta de pó e o mais engraçado de tudo é que brilha, parece que foi limpa ou que pelo contrário, que nunca se sujou.
Lentamente, coloco a mão na maçaneta e rodo-a com todos os cuidados possíveis e imaginários. Diante de mim erguia-se a continuação de uma casa, mas esta totalmente renovada. Estava limpa, tinha as paredes pintadas, o chão brilhava com tanto verniz, as telhas no sitio delas: no tecto e com o pormenor de estarem perfeitamente encaixadas. Os candeeiros com aspecto novo, iluminavam todas as amplas divisões. Além dos candeeiros , a casa está desprovida de todo outro qualquer tipo de mobiliário. Estava pronta a ser habitada e novamente decorada. E hoje, é assim que eu me sinto. Depois de um percurso penoso, com algumas barreiras pelo caminho, depois de passar por uma fase assustadora e com um toque de assombração, sinto-me preparado para seguir com a minha vida. Disposto a que o meu interior seja reabitado e novamente decorado, pois tudo que fazia parte do passado eu guardei cuidadosamente numa caixa pequenina que enterrei à beira de uma tangerineira no meio do campo. Sinto-me feliz, aliviado, solto e leve por me ter conseguido libertar de tudo. A vida não pára e o tempo também não, não vou eu ser a excepção da regra. Ainda tenho muito que aprender, muitos degraus para subir e muitos para descer. Tenho muita gente para conhecer , muitas amizades de longa ou curta duração para construir.
O melhor, é que neste momento consegui sarar todas as frias e possuo o que considero ser o mais importante na vida: um sorriso para oferecer, um sorriso simples mas sincero, um sorriso verdadeiro.

Não morri, apenas me deixei ir a baixo durante algum tempo, felizmente que fui pouco. Mas já me consegui levantar e seguir o meu percurso de vida.

Porque apesar de tudo, ainda tenho o destino para alcançar com muito para viver*

4 comentários:

  1. eu que fui de férias e me tentei desligar , mal cheguei não consegui deixar de visitar este cantinho .
    gosto bastante de te ler João . segredos que parecem ser autenticas estrelas :')

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  2. e esse sorriso irá ficar cravado em ti ! estou aqui jójó (:

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