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O que vivemos é um tesouro que nunca se apaga da memória, mas é o que não construímos que nos entristece e mata.


O fechar definitivo de uma carta


Já a tinha lido vezes sem conta. Conhecia como ninguém a tua letra, cada traço, cada curva, cada linha tremida pelo medo. Sempre tiveste um enorme receio de não ser correspondida, e por isso te escondes por detrás das fantásticas palavras que escreves, mas que ficam guardadas para a eternidade, no meio de uma imensidade de pó, na segunda gaveta da tua secretária. Já lá guardaste tantas, tantas e tantas cartas. Cartas escritas com tanto sentimento, com tanta perfeição, com tanto entusiasmo, mas (...) com tanto medo! Não te podes ficar sempre pelo meio, tens de lutar contra os teus medos, contra o que se opõe a ti e levar as acções até ao fim.
Depois de tanto tempo a reler as palavras que me escrevias, depois de tanto tempo a chorar sobre as folhas carregadas de palavras que me enviavas eu decidi que ia acabar com aquela forma de viver, com aquele tormento. Acabava por não ser saudável para mim, viver um passado no presente. Transformei o que até agora tinha sido passado em algo ainda mais antigo e daí não mais sairia. Decidi que ia começar uma nova vida, não rodeado de cartas, palavras e recordações, mas um vida em que tenho um objectivo real, em que sei o que quero, e em que luto até ao fim. Chega de viver rodeado de tristeza e saudade, chega de viver perdido nas lembranças, chega de passar de novo o que anteriormente já tinha passado. Eu não quero isto para mim. Eu quero ser mais do que sempre fui, quero tornar-me em alguém ainda maior, mais poderoso, leal e, sobretudo, quero tornar-me em alguém feliz. Não vou permitir que o passado me continue a afrontar da mesma maneira. Desta vez, eu vou vence-lo!

Fechei a carta para todo o sempre (...)


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